O projeto intitulado Ciclo-Via surgiu a partir de uma demanda do Estágio Básico em Psicopatologia, disciplina ministrada pela psicóloga e professora Vanessa Serpa Leite do curso de Psicologia da Unijorge. O objetivo deste estágio consiste em oferecer aos alunos uma experiência pontual em instituições que trabalham com pacientes em intenso sofrimento mental. A clínica Ciclos vem estabelecendo parceria com o referido Centro Universitário oferecendo um rico campo de prática e de trocas entre estagiários da área da Psicologia e pacientes do Hospital-Dia.
Dessa forma, em abril de 2018, iniciou-se um novo projeto construído pelos alunos e a professora Vanessa Leite. Projeto este que propôs uma intervenção baseada nos princípios da saúde mental e atenção psicossocial o qual foi nomeado Ciclo-via. Estes princípios orientam a construção de práticas atreladas à vivência do indivíduo sem desconsiderar seu contexto familiar e cultural.
Pensou-se inicialmente em trabalhar as representações dos pacientes relacionadas à chegada na Ciclos. Uma pessoa em sofrimento mental percorre um caminho até chegar ao momento de decisão pelo tratamento. Decisão difícil, muitas vezes imposta pela família. Outras, uma escolha pessoal pela diminuição do sofrimento. De qualquer modo, durante a vida de cada um, traça-se uma percurso repleto de momentos traumáticos, intercorrências difíceis de falar e consequentemente difíceis de elaborar. Escolheu-se a via da construção de um pequeno livro como a proposta de trabalho, onde as páginas do livro pudessem representar elementos importantes da vida de cada um.
Durante dois meses, uma vez na semana, um grupo de estagiários, acompanhados pela professora, mediou a (re)construção de vidas pelas vias da arte e construções artesanais. Trabalhou-se desde o momento da infância até o momento de encontro com os personagens da Ciclos. Cada paciente representou por meio de gravuras, decoração artística, palavras, frases e fotografias o seu percurso de vida. Todo o trabalho foi feito pelos pacientes na sala de grupos, onde podia-se falar e compartilhar das histórias uns com os outros. O resultado foram livros belíssimos, recheados de histórias e de lembranças. Os encontros com os estagiários foram enriquecedores, pois de um lado estes se mostravam disponíveis e por outro lado recebiam abertura e acolhimento da clínica e dos próprios pacientes. Houve riso, houve choro, houve o desencadeamento da angústia guardada de alguns, mas também a possibilidade de re-invenção da própria história, pois através da arte e da vinculação afetiva pode-se afrouxar os sintomas e permitir uma existência menos sofrida.
Vale ressaltar que o êxito do trabalho se deu pelo entusiasmo, criatividade e compromisso dos estudantes e confiança da coordenação do Hospital-Dia. Juntos em construção de práticas inclusivas e libertadoras.
Vanessa Serpa Leite | CRP 03/03804
Psicóloga clínica de orientação psicanalítica, professora do curso de Psicologia da Unijorge.
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