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Saúde Mental da Criança – O que é apego seguro?

A saúde mental na infância abrange todos os aspectos e elementos cruciais para o desenvolvimento do bem-estar da criança, incluindo os fenômenos de ordem psicológica, afetiva, cognitiva e comportamental em integração e consonância aos determinantes sociais, físicos e ambientais. Segundo Wagner Lima, em seu artigo “Saúde Mental na Infância” publicado pelo blog do Portal Educação, esses aspectos vêm a ser determinantes para a afetividade e para a uma estruturação mental saudável. Com isto, é de suma importância que os adultos de hoje sejam capazes de olhar para o contexto em que suas crianças estão inseridas, pois isto influenciará o presente delas e o futuro dos adultos que virão a ser.

Atualmente, é crescente o número de crianças nos consultórios de psicologia e psiquiatria, com um aumento na prevalência de crianças com Autismo, Transtorno de Ansiedade, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), Depressão, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtorno Opositivo Desafiador (TOD), Transtorno de Conduta, Fobias Específicas, Transtorno de Ansiedade Social (TAS), Dependência Tecnológica e, inclusive, com histórico de tentativas de suicídio. Sem falar, é claro, do crescente risco à saúde física relacionado ao aumento de casos de diabetes, pressão alta, doenças pulmonares, autoimunes e no coração, conforme foi publicado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Mas, o que está acontecendo? Por que tantos transtornos? Por que exatamente neste momento eles estão vindo ao conhecimento das pessoas? São muitos os questionamentos e muitas serão as respostas! Os estudos e pesquisas realizados sobre o tema sinalizam que antigamente as pessoas tinham pouco acesso a informações e muitas pessoas tiveram diagnósticos tardios dos transtornos que apresentaram desde a infância. Somado a isto, de acordo com Dr. Francisco Assumpção, coordenador do Departamento de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), na maioria das vezes, as crianças chegam ao psiquiatra por aborrecerem o ambiente ou por não corresponderem a uma demanda, como, por exemplo, no caso de uma criança de 05 anos que foi encaminhada pela escola por não se alfabetizar em duas línguas. Assim, o não corresponder a certas expectativas, tem levado muitas crianças aos consultórios psiquiátricos e psicológicos, quando na verdade, essas expectativas que precisariam ser revistas.

Como saber se uma criança está desenvolvendo um transtorno mental? É na primeira infância que os pequenos formam sua estrutura mental, seu arcabouço de crenças, de como se vêem, como percebem o outro e o mundo a sua volta, e isto será a base de como se sentirão, pensarão e agirão diante das diversas situações pelas quais passarão na vida. De acordo com Vera Zimmermann, coordenadora do Programa Bebês com Sinais de Risco em Saúde Mental do Departamento de Psiquiatria Infantil da UNIFESP, tais conceitos serão formados a partir da avaliação que a criança faz das reações dos adultos, os quais representam as figuras de modelo para ela em relação ao mundo. Assim, se os cuidadores são muito ansiosos e exagerados, ou se não se mobilizam para nada, a criança se guiará por esses valores. Daí, tem-se o início da formação de suas personalidades e dos possíveis transtornos que poderão desenvolver.

Então, é importante compreender o que é apego, conceito originalmente criado por John Bowlby nas décadas de 1960 e 70 para explicar a relação entre criança e cuidador, sendo um dos conceitos centrais no entendimento do desenvolvimento infantil. De acordo com sua teoria, o relacionamento da criança com os pais é instaurado por um conjunto de sinais inatos do bebê, que demandam proximidade e, com o passar do tempo, um verdadeiro vínculo afetivo se desenvolve, garantido pelas capacidades cognitivas e emocionais da criança, assim como, pela consistência dos procedimentos de cuidado, pela sensibilidade e responsividade dos cuidadores. Um dos pressupostos básicos da Teoria do Apego é o de que as primeiras relações de apego, estabelecidas na infância, afetam o estilo de apego do indivíduo ao longo de sua vida (Bowlby, 1989).

O que seria um apego seguro? Um apego seguro é o laço ou vínculo afetivo que o bebê cria com os pais ou responsáveis que atendem às suas necessidades de cuidado, resultando numa sensação de conforto e segurança. A ocorrência de um apego seguro geraria na criança confiança para se afastar do cuidador e se engajar em outras atividades (Ainsworth, 1989). Além disso, influenciariam em suas relações futuras, uma vez que tendem a reproduzir em suas interações interpessoais o que aprenderam precocemente nos cuidados parentais, gerando adultos mais seguros e auto-confiantes.

Logo, como devo agir para que minha criança não desenvolva um transtorno mental? Algumas orientações básicas seriam: determine uma organização da rotina, com hora certa para acordar, comer, tomar banho, dormir, entre outras, pois crianças precisam de rotina para aprender a colocar ordem no seu mundo. Em seguida, estabeleça o tempo e conteúdo de tela, de acordo com as recomendações por idade, visto que estudos mostram que o excesso de tempo de tela prejudica o sono, altera o humor, reduz a capacidade cognitiva e contribui para o sedentarismo. Mantenha presente na vida de seus pequenos a realização de brincadeiras ao ar livre, atividades físicas, atividades de lazer e a leitura, fortalecendo o vínculo afetivo, ajudando a lidar com as emoções e colaborando para o raciocínio, o aprendizado da linguagem, o estímulo à atenção e à memória. Não esquecendo, é claro, do principal, o tempo qualitativo com os pais e/ou responsáveis.  Ajude seu filho a identificar as próprias emoções, a nomeá-las, pois assim, será mais fácil ele conseguir regula-las nas situações futuras.  E, lembre-se: seu filho  está aprendendo tudo pela primeira vez. Antes de cobrar algo, verifique se é algo que você já o ensinou. E, se ele fez errado, aproveite para ensina-lo.  Ensine antes de reclamar. Olhe para o seu filho, observe, tente entendê-lo.

E, se você perceber que sua criança está apresentando mudanças em seu comportamento ou oscilações emocionais, seria importante buscar a ajuda de um psicólogo, a fim de fazer uma avaliação preventiva, podendo chegar a compreensão do que está acontecendo, favorecer a regulação emocional da criança, o desenvolvimento de suas competências socioemocionais e suas habilidades para o bem-estar.

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